quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Circuito das Artes 2014 - Triangulações






Em 2014 tive a oportunidade e felicidade de participar do circuito das artes com um obra individual - Descartáveis - e como membro do Coletivo Tríptico do qual faço parte com uma intervenção urbana: Tome Coca-cola!  As duas obras fizeram parte do eixo curatorial - Do Urbano. Começo por Descatáveis.

A série fotográfica Descartáveis consiste em uma investigação sobre a difusão do automóvel como extensão do indivíduo, sua produção em massa e os impactos causados por esta na paisagem de Salvador. No recorte dado à pesquisa as fotografias exploram os veículos roubados e abandonados em locais afastados após serem depenados para venda de peças ou participarem de atos ilícitos. Tais ações violentas contrastam com a paisagem natural ao fundo instalando uma atmosfera ambígua onde se entrecruza uma serenidade tropical (a mata, a luz) junto a um desfecho trágico (carros).






Além dos argumentos que movem cada pesquisa artística, na Galeria do ICBA, 13 artistas oferecem alternativas de reflexão sobre diferentes aspectos do urbano. O humano marginal, provisório e contingente no espaço da cidade é perceptível nos trabalhos de Aruane Garzedin, Cátia Lantyer e Rick Van Pelt, onde massas e vazio têm um papel ambíguo. Os extremos do artificial e do natural na cidade são o denominador comum dos ensaios de André França e André Souza, nos quais fachadas de galerias de arte ou sombreiros de praia fechados sugerem a latência da cidade como dimensão metafísica. De modo parecido, mas com outros elementos, em diferentes escalas do central e do periférico, Péricles Mendes e Valéria Simões abordam essa dualidade do que é natural e do que é artificial no âmbito da cidade. Possivelmente o extremo do artificial esteja dado pela onipresença do mercadológico, do iconoclasta e do simbólico presente nas obras de Ricardo Guimarães e do Coletivo Tríptico quase como atentados terroristas à lógica do bom senso anabolizado pela mídia. Entretanto, numa acepção da cidade como artefato, as obras de Rafael Martins, Rodrigo Wanderley, Rosa Bunchaft e Talitha Andrade colocam em discussão e reivindicam a apreensão da paisagem urbana enquanto dimensão estética e suporte crítico do legado humano.

Texto: Alejandra Muñoz 






Coletivo Tríptico (Jô Félix - Péricles Mendes - Vladimir Oliveira)





Vladmir Oliveira, Jô Félix e Alejandra Muñoz 


Jô Félix, Péricles Mendes, Marília Panitz e Vladmir Oliveira. 


Em virtude da Copa do Mundo da FIFA de 2014 ter como país-anfitrião o Brasil e, como grande parceira comercial a marca The Coca-Cola Company, a visualidade hegemônica e ideológica da marca de refrigerante tem repaginado a aparência de ruas inteiras e estabelecimentos comerciais de vários bairros em diversos estados do país. Em Salvador, especialmente nos arredores da "Itaipava" Arena Fonte Nova", não poderia ser diferente do contexto nacional. Adotando as cores da Coca-Cola, o vermelho e o branco vêem massivamente estampando não apenas as fachadas de bares, mercados, padarias, delicatessens, tabuleiros de acarajé, mas assumindo a aparência de letreiros e todo tipo

de material que possa se tornar publicitário, instalando assim, uma agressiva ação de marketing abarcada e proliferada pelos proprietários dos estabelecimentos comerciais.


Através de caminhadas no espaço urbano de Salvador, procedimento poético comumente adotado pelo ColetivoTríptico em seu processo criativo, motivados por um olhar-pensar critico em relação à vida e as transformações na/da cidade e inspirados pelas observ(a)ções pertinentes a CultureJamming e seus enfrentamentos e embates frente à cultura contemporânea excessivamente midiatizada, que irrompe nos espaços públicos urbanos, decidimos experimentar um exercício de Artvismo, uma ação artística, construída e diluída como uma sutil anti-propaganda ou contra-mensagem, materializada em formato de cartazes instalados nas fachadas de diversos espaços comerciais em Salvador.


Como estratégia estética de resolução da obra, decidimos apresentar a instalação em um backlight com a imagem do cartaz que foi fixado nos estabelecimentos que tiveram suas fachadas remodeladas pela marca da Coca- Cola e um diário de ação que poderá ser manuseado pelo público e congrega fotos das intervenções no espaço urbano da cidade de Salvador.





Circuito das artes:



Ficha Técnica

Coordenação geral: Eneida Sanches

Curadoria: Alejandra Muñoz
Produção: Fabiane Beneti e Tetê Ferrari
Secretária: Rafaela Rossi
Montagem: Cristina Maria do Nascimento, Marco Antonio Ramos, Marcos Silva, Nascimento, Quésia dos Santos Lima e Valvir Alaor de Jesus.

Iluminação: Canal Produções

Assessoria de Imprensa: Joceval Santana
Gestão de conteúdo web: Juliana Protásio
Design gráfico: Pedro Menezes
Monitoria: Alunos do Curso de Formação de Mediadores para a 3a Bienal da Bahia

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

V Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia (2014)






Em Autômatos, Péricles Mendes combina materiais, percepções e procedimentos distintos para inventar uma ordem e suavidade aos elementos funcionais e caóticos que ocupam o espaço da cidade. Mendes capta o emaranhado de fios elétricos, postes de iluminação e a presença flutuante dos pássaros em voo, e os transforma em um trabalho de desenho, embora sua linguagem esteja na mistura entre vídeo, fotografia objeto e som. O que está imperceptível no cotidiano ou perceptível, como objetos sem forma nem equilíbrio, transforma-se em narrativa videográfica, na qual o sentido de flutuação, muito bem extraído das imagens dos pássaros, parece reordenar o caos. O que está implícito para além da materialidade híbrida de Autômatos é o trabalho silencioso da observação, que age numa reconfiguração estética do mundo concreto, antes mesmo de sua matéria palpável.

Texto: Mariano Klautau 
Para baixar catálogo completo (PDF):