domingo, 23 de agosto de 2009

Efêmero




Efêmero.

Péricles Mendes

Categoria: Instalação fotográfica

Modelo: Joelma Felix

Objetivo

A instalação fotográfica aqui apresentada tem o intuito de dialogar imagem e tempo como princípio de realidade para o observador através da metalinguagem. O reflexo do espelho remete ao lúdico e simultaneamente ao conceito fotográfico do discurso da mimese, convidando o observador a fazer um jogo de reflexos da sua imagem em tempo real, instantaneamente, com o índice fotográfico da modelo, passado, presa em seu próprio tempo. Através do jogo de espelhos o observador pode “construir imagens”, pois as portas móveis permitem uma composição de reflexões, podendo inserir-se na imagem.

O objeto da instalação propõe por intermédio de imagens e reflexos que o observador busque simultaneamente a si mesmo e o significado da obra, como quem se olha no espelho cruzando a recepção sensível da instalação com a contemplação de si próprio. Na composição das fotografias a metalinguagem mostra espelhos dentro das fotos que são refletidas pelo mesmo espelho real, externo. Estão “dentro e fora” da obra, relacionando duas temporalidades: presente (reflexo no espelho do armário) e passado (fotografias da modelo).






Justificativa

A direção do ensaio fotográfico partiu da possibilidade de fazer uma analogia de imagens fotográficas cuja modelo admira-se defronte a um espelho, com cenas do romance de Oscar Wilder – O retrato de Dorian Gray – onde o personagem principal, o próprio Dorian Gray, surpreende-se ao vislumbrar o seu retrato pintado por Basil Hallward. Na instalação o ensaio fotográfico tenta reproduzir de forma pessoal, uma cena na qual a modelo pousa e busca em si um padrão de beleza, no seu ato narcisista. No ensaio o espelho representa para a modelo o que o quadro de Basil Hallward é para Dorian: “um retrato da sua alma”, beleza efêmera e transtorno psicológico.

A efemeridade da beleza é consumada todos os dias pelo indivíduo ao fitar-se trivialmente no espelho, idolatrando o ego a favor da superficialidade da beleza física. Olhar no espelho e não se ver. Afinal, não deveria o observador buscar sua beleza interior, algo pleno que somente pode ser sentido, invisível aos seus olhos e que não pode ser refletido no espelho? Porque não buscar essa plenitude diante das obras de arte já que esta, possibilita ao observador a “si ver”? Segundo Paulo Sérgio Duarte: Muitas vezes o papel da obra de arte é apontar algo que falta em mim mesmo. A obra não vai me preencher, mas apontar que não estou completo, pois sequer eu imaginava que essa experiência seria possível. Ou seja, não sou completo como pensava que era. Estou cheio de vazios e a obra está lá para mostrá-los.

A verdadeira beleza é um estado de espírito, o qual é tão variável que passamos a amar e odiar nossa fisionomia.

Os nossos sentidos estão num estado contínuo de vicissitudes: um dia não temos olhos, outro ouve-se mal; e dum dia pro outro vemos, sentimos, ouvimos diversamente. (...) Acidentalmente, juntam-se ao mais belo objeto idéias desagradáveis” ¹

É essa efemeridade de sentimentos que interfere na nossa recepção, reflexão e razão. Assim como nada se fixa ou demarca no espelho, sua superfície é efêmera, volúvel. Só através da fotografia o reflexo do espelho foi contido, fixado, deixando de ser passageiro e passando a ser uma representação perpetuada. O efêmero, presente no movimento do reflexo; contra, a fixidez perpetua do golpe do obturador.

Dimensões: (L x A x P) 78 x 50 x 11 cm.

Altura recomendada: 1,20 m