No Olhar de Péricles Mendes, fomos inundados por uma
fotografia baseada em alicerces teóricos sólidos, erguidos sobre pilares de
muita pesquisa, estudos e experimentações. Muitos artistas refletem o contexto
econômico social no qual estão inseridos, fazendo da realidade uma fonte de
inspiração para trabalhos conscientes que traduzem deficiências ou simplesmente
aspectos do comportamento social que, às vezes de tão banais nos passam
desapercebidos. Nessa linha de pensamento, artistas como Péricles se deixam permear
totalmente por essas influências, não se desapercebendo do contexto onde seu
pensamento e obra estão inseridos.
“Autômatos”, “L.A.P.A – Leitura em Ambientes de Passagem” e
“Subtraídos: Uma Estética do Desaparecimento” foram alguns dos trabalhos apresentados
por Péricles. Ao observá-los, ficou claro que o pensamento fotográfico do
artista aborda constantemente o ambiente das cidades, com todos os seus
progressos e retrocessos. Revelam-se justamente na casualidade, na decadência e
na desorganização, temas possíveis para o pensar sobre. E são muitas as
possibilidades de reinterpretar a realidade que nos circunda. O “Autômatos” por
exemplo é um trabalho fotográfico onde Péricles recortou os detalhes da urbe,
em sua confusão antiestética e decadência temporal, e que posteriormente, foi
transformado num vídeo que recebeu menção honrosa pela inovação no 15º Festival
Nacional Cinco Minutos realizado em Salvador – Ba em outubro de 2012.
A crítica é um elemento constante e caracterizador na obra de Péricles Mendes. Ele não se esquiva de estabelecer uma posição sobre temas que o incomodam, trazendo sim um juízo moral, baseado no estudo e conhecimento intelectual sobre os temas. Em sua obra, ele se posiciona como cidadão que faz parte do contexto crítico abordado, fugindo da passividade do ponto de vista do apenas “cidadão observador insatisfeito”. Péricles interfere em sua realidade, quebrando a perspectiva ortodoxa e criando uma dimensão paralela entre o real e as possibilidades do virtual, mas sempre levantando questionamentos validados pelo seu olhar cidadão e artístico, que aproveita as mazelas urbanas como inspiração recriadora para sua arte.
Foi um prazer ouvi-lo, Péricles Mendes!
Por Karla Braga
Fotos: Taciano Levi