quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Mar de Alma

A poética dos pescadores de Itapuã, sua relação harmoniosa e respeitosa com o mar, é tema da primeira exposição individual do fotógrafo Péricles Mendes. Vencedor do edital Portas Abertas para as Artes Visuais, da Fundação Cultural do Estado da Bahia, Péricles expõe Mar de Alma na Galeria Pierre Verger a partir de quinta-feira, dia 27 de setembro, às 19h. A visitação acontece de 28/09 a 04/11, de segunda sexta, das 9h às 21h, fins de semana e feriados, das 14h às 21h, com entrada franca.
Morador de Itapuã desde o nascimento, há 31 anos, Péricles iniciou o ensaio fotográfico documental em 2006, buscando traduzir nas imagens sua relação amorosa com o mar, construída desde a infância. “O tema da pesca veio durante as sessões fotográficas. Percebi, então, o pescador como um ser poético, cuja lida diária é permeada de crendices e uma extrema harmonia com a natureza”, conta. A exposição consta de 17 fotos coloridas, em tamanhos variados.
Preocupado com o destino da sua comunidade, Péricles salienta que é grande a especulação imobiliária em Itapuã. “Estão derrubando coqueirais para construir condomínios fechados. Não há o devido respeito às riquezas naturais da região”, protesta.
Mar de Alma é a primeira exposição premiada pelo edital Portas Abertas a ser lançada.





Mar de Alma

O mar invade os corpos,
As pedras escuras,
A dor e a alegria dos que caminham com o olhar absorto no mar.
Carrega na sua correnteza o cotidiano alheio
E as areias que sustentam os pés entregues ao sal.

Enche o vermelho de sol, o azul de céu.
Um Pulsar que fala a língua sonhar
Arrebenta o concreto indiferente dos homens,
A rede do pescador,
O vazio dos esquecidos.

Leva o dia contigo, mar.
Traz as paixões,
Os sonhos,
As sereias,
A infinitude do amar pra esse porto chamado Alma.

Péricles M.
21/09/07

Mar de Alma





Apresentação

Mar de alma é um ensaio fotográfico documental que retrata o cotidiano da marina do bairro de Itapuã, Salvador. Visa valorizar a estética do espaço da orla de itapuã, seus personagens e as atividades relacionadas ao mar, através de imagens fotográficas realizadas no período de março a setembro de 2006. “Mar de alma” sustenta-se num discurso visual onde a imagem romântica é focada pela cor e contexto de seus personagens.

A justificativa do ensaio “Mar de alma” dar-se pela importância em se valorizar e preservar a cultura e memória popular do bairro de Itapuã, mais precisamente ao universo pesqueiro. Vale ressaltar que a pesca, uma atividade secular que proporciona sentimentos bucólicos e nostálgicos, guarda sua essência ancestral, essa mesma essência que inspirou artistas como Calasans Neto, Dorival Caymmi, Vinícius de Moraes, Pierre Verger, entre outros e ainda perdura como fonte de matéria-prima de valor inestimável.
O bairro de Itapuã possui uma colônia de pesca próxima à escultura da Sereia de Itapuã, com aproximadamente 2.800 pescadores cadastrados, que fazem da pesca uma atividade que alia profissão e lazer. Próximo ao farol de Itapuã está à segunda colônia, abrigando a cooperativa de pescadores.
Na década de 70, o bairro era um dos principais pontos de exploração da pesca baleeira no estado, deixando resquícios desta prática até hoje nas suas praias (ossos) e na sua arquitetura; pois algumas casas foram construídas a partir do óleo extraído da baleia. A influência do mar começa pelo próprio nome do bairro que em tupi-guarani significa “pedra que ronca”. Sempre que a maré se encontra vazante, a pedra, localizada numa bancada de recife, ronca. Os pescadores, perpetuando um ritual antigo, saúdam e pedem proteção à pedra quando partem em alto-mar. Até hoje é possível ver a lida dos pescadores ao nascer do sol e nos fins de tarde, todos os dias.